Africa, em nome de Deus
Eleições
no Uganda: detenção, protestos e bloqueio de redes sociais
As eleições gerais no Uganda decorreram ao som de
protestos em vários pontos do país. Em Kampala, a polícia usou gás lacrimogéneo
para dispersar eleitores enfurecidos. Um candidato da oposição à Presidência
foi detido.
Depois de votar, esta
quinta-feira (18.02), o Presidente ugandês Yoweri Museveni disse aos jornalistas
que ia descansar. "Não tenho conseguido dormir", confidenciou.
"Amanhã, vou caminhar e ver as minhas vacas."
Na manhã de sexta-feira, a
Comissão Eleitoral divulgou resultados parciais: Museveni, no poder há três
décadas, ia à frente da contagem, com quase 62% dos votos. Em segundo lugar, a
larga distância, estava o principal candidato da oposição à eleição
presidencial, Kizza Besigye, com 33,5%, quanto estavam contabilizados os votos
de cerca de 13% do total de eleitores registados.
Besigye: "Se o senhor Museveni não quer
eleições, não tem de as convocar"
O opositor Kizza Besigye foi
libertado ao final da tarde de quinta-feira após ter sido detido na capital do
país, Kampala, junto a uma casa que suspeitava servir de centro ilegal de
contagem dos votos gerido pelo Movimento de Resistência Nacional, o partido no
poder, e pela polícia. Momentos antes, criticara o processo eleitoral perante
os jornalistas.
"Isto tem de parar",
disse Besigye. "Se o senhor Museveni não quer eleições, não tem de as
convocar. Mas, se as convoca, que as deixe ter lugar. Para quê gastar o
dinheiro do país a organizar uma eleição se quer impor a sua vontade?"
De acordo com a polícia, Besigye
não foi detido, mas apenas "escoltado" até à sua residência, após lhe
ter sido negado o acesso a um edifício onde os civis não podem entrar.
Protestos
O opositor já fora detido na
segunda-feira durante algumas horas. Os seus apoiantes ergueram barricadas e
lançaram pedras à polícia, que respondeu com disparos e gás lacrimogéneo. Uma
pessoa morreu e 19 ficaram feridas.
O cenário repetiu-se esta
quinta-feira. A falta de boletins de voto, os atrasos na abertura das
assembleias de voto e suspeitas de fraude levaram a violentos protestos em
vários pontos do país. Nos subúrbios de Kampala, a polícia respondeu com gás
lacrimogéneo e tiros quando a população invadiu uma casa onde alegadamente se
escondiam urnas com votos falsos.
Falta de boletins e demoras nas assembleias de voto
enfureceram eleitores
"Sem problemas"
O encerramento oficial das urnas
estava previsto para as 16h00, mas a Comissão Eleitoral foi obrigada a
prolongar a votação por três horas. Ainda assim, o presidente da Comissão,
Badru Kiggundu, mostrou-se satisfeito com a realização das eleições.
"O processo de votação
decorreu sem problemas, as tecnologias funcionaram extremamente bem e, por
isso, o investimento não foi em vão", afirmou.
Ainda assim, entre os 15 milhões
de eleitores ugandeses, muitos não puderam votar. Em algumas áreas, a votação
foi adiada para sexta-feira.
Bloqueio de redes sociais
Entretanto, multiplicam-se as críticas
ao Governo de Yoweri Museveni, que, durante o dia das eleições, bloqueou o
acesso às redes sociais, como o Twitter, o Facebook ou o WhatsApp.
A Amnistia Internacional fala
numa violação dos direitos fundamentais dos ugandeses à liberdade de expressão
e à informação. Uchena Emelonye, representante no Uganda do Alto Comissariado
das Nações Unidas para os Direitos Humanos, também se mostrou preocupado.
"Isto tem implicações nos
direitos humanos e já questionámos as autoridades", revelou.
O líder da missão de observadores
da União Europeia, Edward Kukan, afirma, no entanto, que os problemas
registados durante a votação não deverão ter um impacto significativo no
desfecho das eleições.
Resultados finais das eleições
gerais deverão ser anunciados no sábado.
Comentários
Postar um comentário