Confiança no cidadão, é a diferença. Eternidade, Holanda!
A Holanda
é o pesadelo da classe média brasileira e da família de bem
By Carta Campinas / in Geral, Manchete / on sexta-feira, 11 ago 2017 04:20 PM / 7 Comments
Holanda:
o pesadelo da classe média brasileira e da família de bem
Por Paulo Paganini
Dizem que o sonho de toda classe
média brasileira é ser parte da Europa. Mas há ao menos uma exceção: a Holanda.
A Holanda é o pesadelo da classe média brasileira e da família de bem.
Imaginem a reação desta classe ao
descobrir que toda família recebe uma bolsa por filho para que tenham acesso à
cultura e à arte. “Que absurdo!”, diriam. “Bolsa para sustentar
vagabundo? Coisa de petista que mama na Lei Rouanet e agora quer dar acesso
para pobre?”. “Porque o filho de uma amiga conhece um rapaz que tem um tio que
viu um cara bebendo num bar. Certeza que era com essa bolsa esmola!”
Sobre a educação de qualidade e
universal, a classe média, aquela que mora nos Jardins, iria amar ver seus
filhos estudando ao lado de filhos e filhas de pessoas que trabalham com
faxina, construção, caixa de supermercado. “Como este governo ousa misturar
minha família com serviçais?”
E a prostituição? O
governo holandês regulamentou a prostituição. Se fosse no Brasil, isso causaria
pânico, desespero, perda de cabelo, urticária e siricutico nas pessoas de bem.
“O que vou dizer ao meu filho quando ele ver uma moça numa vitrine oferecendo
serviços sexuais em plena luz do dia?” Embora reconheço que existem diversos
problemas relacionados a esta pauta e que valeriam para um outro texto,
certamente a família “cristã” tradicional brasileira iria à loucura numa
eventual regulamentação desta profissão.
Maconha também é regulamentada na
Holanda, ao passo que pena por crimes de menor grau é
branda. E eis que surgem as pessoas de bem para garantir que bandido bom é
bandido morto e que “se fosse na ditabranda, isso jamais iria acontecer”.
Então, lutando por dias melhores, a linda classe média demandaria a mudança
certa destes pontos. “Lugar de bandido é na cadeia!”, diriam aos berros
enquanto chamam a bandeira do Japão de bandeira comunista. “O favelado tem que
pagar com pena dura se for pego com drogas”.
Em caso de um membro da família
da classe média ser pego, eis a pena alternativa: “Ah, era apenas um cigarro. E
o Afonsinho ainda é só um menino”, no auge dos seus 25 anos. “Já chamamos o
advogado da família para lidar com isso. E o Afonsinho já pagou a pena dele,
pois cortamos a mesada dele pela metade e cortamos também a viagem deste final
de semana.” Agora imaginem esta classe média inserida num lugar onde existe
regulamentações e mais regulamentações que ampliam direitos e estendem as
situações de igualdade…
Ok. Até certo ponto a classe
média tradicional aceitaria, ou ao menos engoliria, tais regulamentações. Mas
tem uma que não dá. “O que?? Ciclovia??”. Se transposta do Brasil para a
Holanda, a classe média iria à loucura ao descobrir que o carro é o último na
lista de prioridades das leis de trânsito locais. Num lugar onde bicicletas,
pedestres e transporte público têm prioridade em detrimento ao carro, isso
seria veementemente repudiado pela família de bem. “A gente se esforça pra
comprar um carro e vem esse governo comunista dar preferência para bicicleta?”
No fim das contas, a classe média
brasileira e todo o leque conservador da sociedade aceitaria alguns pontos
desta lista uma vez que os consome. Aceitariam, com muito custo, uma educação menos
elitista e de qualidade. Aceitariam, numa situação muito hipotética, a
regulamentação da prostituição após romperem com sua hipocrisia e assumir que
os barões médios e os pequenos burgueses consomem este tipo de serviço.
Aceitaria até mesmo a maconha circulando de forma regulamentada, e assim o
Afonsinho poderia fumar tranquilamente, embora isso seja uma afronta aos bons
costumes.
Mas ciclovia? Essa a classe média
negaria irredutivelmente. “Não vou trocar o conforto do meu SUV por uma
bicicleta. E sou livre, tenho o direito de andar com meu SUV sem ninguém me
incomodar! Vão colocar ciclovia na puta que pariu, mas não aqui!! Prioridade
para outros meios?? De jeito nenhum! Eles que comprem um carro. E que seja um
carro decente, senão vai deixar a cidade ainda mais feia com aqueles carros
baianos de pobre!”
*Não trago, e não busco trazer
aqui, o debate sobre a mercantilização destas pautas e a dominação de tais
mercados por grandes grupos. Busco apenas ilustrar de forma rasa o pensamento
médio brasileiro, sem intuito algum de aprofundar estes pontos neste texto. (Do
ONovelo)
PS do Carta Campinas: E olha
que há muito mais pesadelos para se ter com a Holanda. Por exemplo, foi o primeiro país da Europa a legalizar a adoção de
crianças por casais homossexuais. E também na Holanda a legislação não criminaliza a
mulher em relação ao aborto desde 1981.
E também, o mais odioso de todos
os pesadelos da Holanda: o país fecha prisões por falta de bandido.
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