É o Estado, corrupto
"Criamos
sociedade viciada no Estado", diz ministro do STF
Em
Londres, Luís Roberto Barroso afirma que Brasil não consegue mais financiar a
universidade pública e que instituições devem achar outras fontes de recursos.
Ele também diz ser contra convocação de nova constituinte.
O
ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luís Roberto Barroso disse neste
sábado (05/05) em Londres que é contra a convocação de uma nova constituinte e
que a universidade pública deveria procurar outras formas de financiamento
além do estatal.
Ele criticou ainda "a
permanente dependência e onipresença do Estado brasileiro". "Qualquer
projeto social, econômico e político depende do Estado. Criamos uma sociedade
que é viciada no Estado", disse. "Temos que expandir a sociedade
civil e reduzir essa dependência em que o Estado se torna mais importante do
que a sociedade."
As declarações de Barroso foram
feitas na abertura do Brazil Forum UK, na London School of Economics, em
Londres. A conferência tem como tema neste ano os 30 anos da Constituição
brasileira de 1988. Também tiveram presenças confirmadas no evento a
ex-presidente Dilma Rousseff e a pré-candidata à Presidência Marina Silva.
"Autossustentabilidade"
No caso do modelo de universidade
pública, Barroso disse que ele "custa caro e dá um baixo retorno para a
sociedade".
"O Estado não tem dinheiro
suficiente para bancar uma universidade pública com a qualidade que o país
precisa. A universidade precisa ser capaz de autossustentabilidade, precisa ser
capaz de interlocução, vender projetos para a sociedade, pedir contribuição,
obter filantropia. Já há ricos suficientes no país, e eles acabam dando
dinheiro para Harvard e Yale. Há um preconceito que precisamos superar",
ressaltou.
O discurso de Barroso não
foi bem recebido por alguns membros do público da conferência, que
chegaram a interromper a fala do ministro. Em outros momentos, alguns
espectadores interromperam a palestra com gritos de apoio ao ex-presidente
Lula.
À imprensa, Barroso disse que não
estava defendendo a "privatização da universidade pública", mas
"arrecadar dinheiro". "O que eu disse é que o dinheiro que o
Estado brasileiro dá para a universidade não é suficiente para termos
universidades competitivas mundialmente. A minha ideia é – sem abrir mão
de nenhum centavo que o Estado dá – que a universidade procure a sua
própria autossustentabilidade. Pode ser vendendo projetos e serviços para a
sociedade, arrecadando recursos de ex-alunos de sucesso e com filantropia. Não
falei contra a universidade pública, mas a favor", ponderou.
"Destruição criativa"
Ao comentar a crise política e os
escândalos de corrupção, Barroso disse que "o processo civilizatório
existe para potencializar o bem e reprimir o mal, mas o sistema político
brasileiro faz exatamente o contrário: ele reprime o bem e potencializa o
mal". Ele também disse que "a corrupção no Brasil não foi resultado
de falhas individuais", mas "resultado de uma corrupção endêmica e
sistêmica" de "um pacto oligárquico para o saque e desvio de dinheiro
público".
"Há quem se achava imune e
não quer ser punido – até consigo entender, já que é da natureza humana.
Mas há um lote pior: aqueles que não querem ser honestos nem daqui para a
frente, que gostariam de manter tudo como está."
Barroso, no entanto, se mostrou
otimista e disse que "o Brasil vive um momento de destruição
criativa".
"Há uma tensão no Brasil
hoje, entre uma velha ordem e uma nova ordem que quer nascer. Acho que estamos
atravessando essa transição", avaliou. "A sociedade deixou de aceitar
o inaceitável. Há uma imensa demanda por integridade, idealismo e patriotismo e
uma importantíssima reação da sociedade civil contra esse modo natural de se
fazer política e negócios. Esse trem já saiu da estação e não volta mais. Acho
que estamos na véspera desse futuro que sempre é adiado. Se fizermos ajustes
podemos dar uma contribuição muito interessante para a causa da humanidade."
Sobre o aniversário da
Constituição, Barroso afirmou que é contra a eventual convocação de uma
constituinte, um tema que invariavelmente é citado como uma solução em períodos
de crise. "Acho que não devemos desperdiçar o capital político que a Constituição
de 1988 representa. Não devemos nos ocupar com uma nova constituinte",
disse.
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